Uma das definições de solidariedade pode ser:  um ato de bondade e compreensão com o próximo ou um sentimento, uma união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um grupo. Prefiro uma definição alternativa. É  descalçar seu sapato, que é confortável em seu pé, e calçar o do outro, que pode não ser do mesmo número, pode incomodar e até doer. Acho inclusive que não existe solidariedade sem empatia. Empatia consiste em compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar o que sente outro indivíduo.

A forma como o mundo andou nos últimos anos nos tornou menos capazes de descalçar nosso confortável sapato. Vejo isso de forma significativa em um passado recente, especialmente após nossa imersão em nossos smartphones e cia, navegando pelo mundo afora.  Somos capazes de nos conectar com o mundo todo de forma virtual, mas cada vez menos aptos a nos relacionar diretamente. Ficamos mais egoístas, individualistas, menos afeitos a nos relacionar diretamente com o outro, o que, aqui entre nós, dá um trabalho e tanto (sapato do número diferente incomoda!).

Estamos, nestes dias, em um sofrimento coletivo. Esse sofrimento nos aproxima, nos desaloja de nossas convicções e certezas, nos coloca a todos diante da mesma fragilidade. Permite-nos aguçar a compreensão da extensão do humano. Isso nos torna mais aptos a entender a necessidade do outro e o que posso fazer para ajudá-lo, seja em suas demandas materiais ou emocionais.  Além disso, nunca tivemos tantas pessoas necessitando de nossa solidariedade, nossa aproximação empática.

Solidariedade não é ajudar, estar disponível somente a quem temos simpatia. Isso é amizade! É calçar nosso próprio calçado, aquele que já está adaptado a nossos pés. Solidários somos quando conseguimos transpor as barreiras que nos afastam e estendemos a mão a quem nos é diferente. E alerto! Não devemos esperar que nossa vida esteja em perfeita sintonia para poder estar disponível para solidariedade. O destino nos pede que comecemos hoje, mesmo aterrorizados pelo medo e incerteza.

Que sejamos capazes de sair de nossa zona de conforto, de nossas necessidades individuais e que possamos aprender a estarmos disponíveis ao sofrimento do outro. Que tudo o que estamos vivendo sirva para um mundo mais solidário e menos solitário…