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Platão foi o autor de uma obra chamada A República, que versa sobre política e sociedade, à época da Grécia antiga. A obra, escrita em forma de diálogo, tem como personagem principal Sócrates, mestre de Platão. É composta de dez capítulos (livros) e tem como fio condutor principal a Justiça, embora aborde  diversos assuntos distintos.

Um dos livros mais famosos que compõem A República é o VII, que aborda a a Alegoria da Caverna. Muito já se falou sobre essa passagem e frequentemente ela é usada para exemplificar ou sustentar idéias mais diversas possíveis. Pois bem, resolvi também eu me aproveitar dela para debater algumas observações nestes dias de pandemia e isolamento.

No Mito da Caverna, Platão descreve homens que foram aprisionados (acorrentados) desde a infância em uma caverna. Virados de costas para a entrada da caverna, veem apenas o seu fundo. Nessa parede, sombras formadas por uma fogueira num fosso anterior aos prisioneiros eram projetadas. Pessoas passavam com estatuetas e faziam gestos na fogueira para projetar as sombras na parede frontal aos prisioneiros, e esses achavam que toda a realidade eram aquelas sombras, pois o seu  mundo resumia-se àquele cenário.

Um dia, um dos prisioneiros liberta-se e começa a explorar o interior da caverna, descobrindo que as sombras que ele sempre via eram, na verdade, controladas por pessoas atrás da fogueira. O homem livre sai da caverna e encontra uma realidade muito diferente e mais complexa do que parecia para os prisioneiros. De início,  sente um incômodo muito forte com a luz do sol, o que o cega momentaneamente. Após algum tempo de visão ofuscada, o homem consegue enxergar e percebe que a realidade e a totalidade do mundo são totalmente distintos do que sua experiência de vida sugeria até então. Tomado por um dilema, esse homem tem a opção de voltar para a caverna e manter-se como havia se acostumado ou, por outro lado, pode se esforçar por se habituar à nova realidade. Se esse homem quiser permanecer fora pode, ainda, voltar para libertar os companheiros dizendo o que havia descoberto no exterior da caverna. Neste caso, provavelmente eles não acreditariam no seu testemunho, já que a verdade era o que conseguiam perceber da sua vivência na caverna.

De volta à atualidade, provavelmente a maioria de nós viveu sempre acorrentado na caverna de Platão. Permanecemos envolvidos com a luta pela sobrevivência e em busca de algum prazer de duração efêmera. É nosso dever, contudo, neste momento, aproveitar a oportunidade que a Natureza nos deu de questionar nossos valores, hábitos, ambições, e ressignificar a existência. Diante de tudo o que estamos vivendo, o que realmente continua tendo valor? Atrás de quantas sombras andamos correndo por toda uma vida, achando que eram realidade?

A resposta é individual, mas o exercício da pergunta é imperativo. Muito se fala de uma mudança de rumos da humanidade a partir deste evento. Tenho um pouco de dúvida quanto a isso. Creio que muitos de nós voltarão para as correntes e sombras com as quais já estão bastante habituados, afinal a força da zona de conforto é quase (quase) irresistível. Mas  sugiro uma investigação sincera neste momento de nosso Eu e deixo uma sugestão: no silêncio do íntimo, quando todo o ruído do mundo cessa, mora a intuição. Siga a sua. Ela é nossa guia para fora da caverna.