Plantas com alegadas propriedades medicinais têm sido cada vez mais utilizadas como alternativa em relação aos tratamentos tradicionais. Porém, a medicina tradicional enxerga com certa preocupação o uso indiscriminado desse recurso, uma vez que muitas vezes essas “plantas medicinais” não só carecem de uma evidência de benefício mais conclusiva, mas também demonstram potencial risco para a saúde. Em recente revisão sobre o uso de ervas medicinais publicada no Journal of American College of Cardiology, (JACC 69 (7):1188 – 9 9) foram repassadas algumas substâncias de uso supostamente benéfico para a saúde e fica um grande alerta. Algumas podem até estar te fazendo mal. Selecionei as principais para discutir por aqui. Confira:
1- Ginseng: Usado para melhorar a saúde em geral e a imunidade. Até o momento não há evidência de benfício cardiovascular desta substância. Embora não tenha seus benefícios comprovados, parece ser seguro para uso por curto período de tempo. Deve-se tomar cuidado porque pode interagir com outras medicações como warfarina.
2- Óleo de linhaça /cártamo: Usado por efeitos potenciais na melhora de artrite, osteoporose e prevenção de câncer. Ainda alega-se que diminui pressão arterial e colesterol, além de prevenir arritmias. Os estudos clínicos mostram uma pequena redução a pressão arterial, por alteração no relaxamento das artérias. Também demonstrou-se diminuição pequena no LDL colesterol, que pode chegar a até 15mg/dl, porém nenhum efeito no HDL (colesterol bom) e nos triglicerídeos. Como efeitos colaterais, pode causar diarréia e também diminuir a absorção intestinal de alguns medicamentos de uso contínuo.
3- Óleo de Alho: Tem seu uso popular para redução de Pressão Arterial e diminuição no risco de Infarto. Vários estudos foram conduzidos com objetivo de avaliar seu efeito na pressão arterial. Porém os resultados são conflitantes e não se pode afirmar seguramente se o alho tem ou não papel no tratamento da Hipertensão. Existe porém documentação de redução do Colesterol ruim (LDL) em 10% com seu uso. Embora ainda não haja uma conclusão definitiva, existe evidência de seu benefício para tratamento de condições cardiovasculares. Os estudos até aqui também parecem demonstrar que seu uso seja seguro. Os efeitos colaterais principais são odor de alho, azia e náuseas. Deve-ser ter muita cautela em indivíduos que tomem medicações que alterem a coagulação do sangue.
4- Gingko-Biloba: Usado muito para memória e tratamento de vertigens em nosso meio. Estudos clínicos bem conduzidos falham em mostrar seu benefício para o paciente, embora continue a ser usado em larga escala. A segurança desta substância é a maior preocupação médica, uma vez que pode levar a AVC hemorrágico, principalmente quando usado junto com aspirina, clopidogrel e anticoagulantes.
5- Chá Verde: Usado para melhorar o nível de alerta e como adjuvante para perda de peso. Estudos clínicos bem conduzidos, embora pequenos e de curta duração, demonstram que de fato o chá verde pode ser usado para prevenção de doenças do coração. Leva à redução da pressão arterial, e dos níveis de colesterol. Seu consumo também esteve relacionado a menor risco de diabetes. Além disso parece ser seguro em pacientes com problemas cardiovasculares, porém seu uso pode interferir em medicamentos anticoagulantes.
6- Soja: Usada para numerosas condições, como sintomas de menopausa, osteroporose e alterações cognitivas. Acredita-se que possa reduzir risco cardiovascular, diminuindo pressão arterial e colesterol. A evidência científica sobre a soja diz que diminui colesterol LDL e triglicerídeos, sem efeito sobre o HDL. Não tem benefícios sobre a pressão arterial. Pode ser usada como parte da estratégia de redução de colesterol, principalmente na forma de fitosteróis, que podem ser encontrados em cápsulas ou em alimentos enriquecidos. Preocupações de segurança residem no seu uso de longo prazo, com a possibilidade teórica (não estudada) de aumento do risco de câncer de útero e mama em mulheres, além de disfunção sexual em homens.
Nem todas as respostas para uma vida saudável estão nos balcões de farmácia. Penso, e sempre digo isso, que uma vida saudável passa necessariamente por uma boa alimentação, rica em frutas, legumes e verduras, que contenha gorduras do bem, grão integrais e pobre em carboidratos refinados e gordura animal. Mas, se aparecer o desejo de usar algum produto com alegados efeitos medicinais, divida isso com seu médico. Você pode estar se colocando em risco, uma vez que esses suplementos podem não ser tão inocentes quanto aparentam.
