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Se o amigo que me acompanha esperava mais uma dica de alimentação ou atividade física, peço-lhe licença mas hoje vamos pensar um pouco na vida. Vou apresentar-lhes hoje uma figura que é presença garantida no dia-a-dia dos consultórios médicos. Um rapaz entre 30-40 anos, jovem pai de família, empresário, que vem em busca de uma garantia de vida, porque no fundo se preocupa com a forma pouco saudável que a leva e quer uma certeza de que, apesar disso, não sofrerá suas consequências. Como caracterizar essa vida sem saúde em poucas palavras? De um lado um estilo de vida muito ruim, baseado em excessos alimentares, abuso alcoólico, sedentarismo e sobrepeso. De outro uma ansiedade extrema, que lhe rouba toda possibilidade de felicidade.

Este jovem empresário, de origem humilde, um dia decidiu que teria sucesso profissional. Começou seu negócio,  sempre com a premissa de que faria tudo o que fosse necessário para ter sucesso. Perfeccionista, entregava um trabalho de qualidade ímpar, vestia a camisa de seu cliente. Prosperou. Abriu novos negócios, ganhou dinheiro. Construiu uma família, a quem prometeu que jamais faltaria tudo o que ele teve vontade na infância, mas não teve oportunidade de ter acesso.

E o que tem de errado nisso? Nosso herói condicionou sua vida ao trabalho. Sua mente passou a pensar cada vez mais nos negócios, que controlava com mão de ferro, por muitas horas. O horário de almoço foi encolhendo e o terminar do dia de trabalho ficou cada vez mais tarde. Com a mente envolvida nos afazeres por tantas horas seguidas, como obter algum alívio ao chegar em casa, se os problemas insistiam em vir junto? Nada que algumas cervejas e um prato generoso de carboidratos não possa dar conta.

Mas chegou o fim de semana, e nosso amigo empresário precisa de lazer. A família quer sair de casa, passear, andar no carro zero recém-adquirido. Nada melhor então de que um churrasco com os amigos, muita cerveja e calorias, para acalmar os pensamentos insistentes sobre compromissos de trabalho e inseguranças sobre o futuro dos negócios. E assim passou a semana.

Chegou as férias e a família queria viajar. Claro! Foram para a praia, mas junto foi o celular e o notebook, para que os negócios pudessem ser monitorados. Afinal, clientes importantes não toleram erros nem atrasos. Os momentos de descontração existiram sim nas férias. Não posso ser injusto com meu paciente. Mas vieram após o consumo de várias cervejas e algumas caipirinhas. Lazer sem bebida infelizmente já não existe mais para esse homem de “sucesso”.

E assim passou o ano. As promessas de mudança foram várias, agendadas sempre para as segundas-feiras, dias primeiros do mês, e por aí vai. A academia foi paga por 12 meses, mas não foi usada por mais de uma semana. E o amigo foi renunciando ao presente, renunciando à saúde, vendendo seu tempo em troca de dinheiro, usado para um padrão de vida impensável anos atrás, mas que em nada o fazia feliz.

Esperando que nosso empresário terminou essa história em pronto socorro com um infarto? Ou que tenha lhe acontecido algo de extraordinário, que o tenha feito mudar completamente? Não, apenas  prometeu ao médico na última consulta, mais uma vez, que as mudanças viriam. Se você se identificou com nosso personagem, espero que para você não venham tarde demais, assim como para as incontáveis pessoas que levam a vida de forma muito parecida com essa. Vivendo ansiosamente o futuro, sem se dar conta de que presente é nosso único bem real.

Qual o desafio? Construir o futuro, sem se esquecer de viver o presente. É como caminhar ao destino, mas curtir o caminho que nos separa dele. Isso sem deixar de cuidar de um bem muito mais precioso que dinheiro, nossa saúde. Não esperemos que as perdas nos façam acordar para o que temos e não cuidamos. Mudar aos poucos, sem uma grande ruptura é mais fácil, mais prazeroso e plenamente possível. Que tal?