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Imagine uma cena muito comum nos primórdios da humanidade sobre a Terra. Após dias sem qualquer alimento e lutando para não virar caça de algum mamífero de grande porte, você conseguiu finalmente amealhar comida para satisfazer sua fome e necessidade fisiológica por alimento. Além da sobrevivência, a natureza nos dotou com um mecanismo muito refinado de recompensa pelo alimento. Seu cérebro, desde essa época, produz uma substância ligada a forte sensação de prazer, a dopamina, após a alimentação. Isso para que você se sinta impelido a buscar o alimento, mesmo quando todos os prognósticos de obtenção de comida lhe são desfavoráveis. Portanto, quando o alimento aparecia, era hora de se fartar, ainda que isso implicasse em um estoque extra de gordura, que poderia ser necessário num futuro bem próximo. E, para nosso cérebro, quanto mais calórica a comida, maior recompensa pela secreção de maior quantidade de dopamina. 

Mas algo muito importante mudou dos tempos idos para cá: o acesso ao alimento. Se antes ele era escasso e fruto de muita luta pela sobrevivência, hoje está acessível ao alcance da mão e disponível em qualquer drive thru, conveniência, confeitaria, restaurante, etc. E, pior, passamos a consumir comida industrializada, processada, refinada, calórica, que é capaz de tornar nosso cérebro viciado nesse tal sistema de recompensa, com secreção de doses cada vez maiores da tal dopamina.

Mas aí mora um grande problema. Nosso cérebro vai desenvolvendo resistência a dopamina, o que implica na necessidade de doses cada vez maiores de alimentos calóricos para que se obtenha o mesmo nível de prazer pela dopamina. E aí, assim como usuários de droga, os comedores  passam a procurar de forma compulsiva os alimentos processados, à base de farinha e açúcar, além da gordura, como fonte de alimento, para satisfazer a voracidade de um cérebro ávido por dopamina e por prazer.

Como hoje é muito fácil tomar um litro sozinho de refrigerante, comprar um lanche cheio de gordura saturada acompanhado por batatas fritas, que além de carboidratos refinados, são turbinadas por uma dose extra de gordura trans, sem falar de doces, biscoitos, congelados, e uma infinidade de alimentos de baixa qualidade nutricional, está feito o estrago. Estamos vivendo uma epidemia sem precedentes de obesidade e, junto com ela, de diabetes, alterações de colesterol, hipertensão e, em última análise, de complicações como infarto e AVC. Lidar com esse problema não é nada fácil, principalmente porque, mesmo dentro da comunidade científica, não há consenso em o que é comer bem. Mas algumas estratégias estão bem definidas há muito e seguramente não vão mudar. Por exemplo, fazer atividade física regular (que inunda seu cérebro com hormônios de recompensa igualmente e de forma muito mais saudável), comer pouco e evitar alimentos industrializados são algumas dicas de hoje.