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Recebi recentemente, em vários grupos de redes sociais, um post citando uma matéria do Washington Post de fevereiro de 2015 falando sobre o colesterol. No post, é citada essa matéria como justificativa para um pensamento que tem ganho corpo tanto na mídia leiga quanto em meios acadêmicos. Esse pensamento é de que o colesterol elevado não é ruim para sua saúde e, pelo contrário, pode ser até benéfico para você.

Primeiro começo citando a reportagem o Washington Post. Ela fala uma postura bem reconhecida e, friso, sem muitas novidades. Trata-se do fato de que ingerir colesterol não é o que mais conta na sua dosagem de colesterol. Deu nó na cabeça? Deixa eu explicar porque é importante que isso fique claro. Nosso colesterol no sangue vem de 2 fontes: produção própria ou ingestão através dos alimentos. Então, se você não ingerir colesterol, vai produzi-lo, o que acaba dando na mesma. Entendeu? Só que colesterol elevado no sangue é sim um grande fator de risco para obstrução nas artérias. Não é o único e existem pessoas que, com colesterol normal, desenvolvem obstrução e outros que, mesmo com colesterol elevado, não apresentam essa doença. Ou seja, não é uma imagem em espelho, colesterol elevado é risco para doença, aumento de chance, mas não doença garantida. E outros fatores contam muito também, como diabetes (e a dita síndrome metabólica), tabagismo, hipertensão arterial, tendência genética a aterosclerose, além do envelhecimento.

Mas precisamos que outra coisa fique clara. Ingestão de gordura não é a mesma coisa que ingerir colesterol. E o dito post, assim como muita coisa que você vai ver nas mídias sociais, vai dizer que o consumo de gorduras, especialmente as saturadas, está liberada. Então vamos tentar clarear isso à luz do que a o estudo sobre o colesterol (lipidologia) entende como correto. O excesso de gordura na dieta, principalmente em sua forma saturada, que está presente nos alimentos de origem animal, na gordura trans (tremendo veneno para sua saúde), e em alguns óleos vegetais (coco, dende e palma), está relacionado sim a aumento de colesterol e isso se acompanha de maior risco de obstrução na circulação no longo prazo. Só que, quando falamos longo prazo, temos margem para que as pessoas adotem esse estilo de vida sem maiores consequências por algum tempo. E elas tendem a achar que estão seguras…

Moral da história? Diretrizes antigas sugeriam uma grande restrição no consumo de gordura. Só que isso levou a um grande aumento na ingestão de carboidratos refinados, que estão sem dúvida relacionados a ganho de peso e prejuízo para a saúde. Indivíduos que ingerem carboidratos em excesso têm maior índice de obesidade abdominal e, consequentemente, maior chance de adoecer. Logo, um maior equilíbrio entre o consumo de carboidratos, privilegiando grão integrais, com uso de gorduras é recomendado. E as gorduras saturadas podem fazer parte da nossa dieta, num limite de até 10% de nossas calorias diárias (7% para indivíduos de alto risco cardiovascular). Por exemplo, para uma dieta de 2500 calorias, até 250 calorias dessa forma de gordura. Isso equivale a cerca de 27 gramas de gordura.

No geral, recomendo que se privilegie o consumo de  gordura nas formas mono e poliinsaturada. Por exemplo, são algumas fontes desse tipo de gordura: azeite de oliva, abacate, castanhas, amêndoas, amendoim, nozes, peixes de aguas profundas (sardinha, salmão, cavala, etc.). Esse tipo de gordura está bastante presente na dieta do mediterrâneo, estilo de dieta que está consistentemente associado com redução de risco cardiovascular nos estudos. Além desses alimentos, a dieta do mediterrâneo inclui grãos integrais, leite e derivados, pouca carne e consumo moderado de vinho. Sei que esse assunto não se esgota aqui e que muito ainda se vai falar sobre ele. Na dúvida, equilíbrio à mesa vale tanto como em qualquer área da vida. Fica a dica.