xZIrWA0

Hoje quero falar aos amigos de 2 conceitos distintos e tentar trazer uma reflexão proveitosa para tempos de quarentena e isolamento. O primeiro vem do mundo no marketing e chama-se gourmetização, ou experiência gourmet. Gourmetizar significa trabalhar a embalagem de qualquer produto ou experiência que se queira vender para torna-la mais atraente. Exemplos são infindáveis, mas podemos citar alguns, como a noiva que vai a uma loja exclusiva para escolher seu vestido para o casamento e é bem atendida e bajulada. O produto em si é um vestido, que nada tem a ver com a exclusividade no atendimento, mas a experiência gourmet de um atendimento exclusivo foi anexada para vender mais e mais caro. Vender um sonho anexo a um produto. Outro que me vem é o consultório médico que oferece um serviço VIP, num ambiente cuidadosamente decorado. O produto em si é uma consulta, mas a experiência é gourmetizada, nos faz sentir exclusivos, especiais.

O segundo conceito vem da psicanálise e chama-se adaptação hedônica. Ela diz que nosso índice de satisfação, ou prazer, tende a retornar a um estado “normal” ou natural.  É a  tendência observada de regressar rapidamente a um nível relativamente estável de felicidade apesar da ocorrência de importantes acontecimentos positivos ou negativos ou de mudanças de vida. Ouso dizer que, durante a quarentena, tive um momento de profunda infelicidade de ter meus hábitos cotidianos totalmente mudados, mas que meu novo normal até me causa algum prazer e pode deixar boas lembranças  quando tudo voltar ao que era antes.

E onde esses conceitos se entrelaçam? Vou tentar explicar e demonstrar minha idéia. A Pandemia do Covid-19 acabou com qualquer experiência gourmet e ressignificou nossas prioridades. Sobreviver e garantir nossa segurança e de nossos familiares passou a ser a meta principal. Para isso, não precisamos mais de qualquer envelope atraente. Precisamos apenas do conteúdo. E descobrimos que necessitamos muito menos que imaginávamos para viver e ser feliz. Produtos exclusivos, experiências inesquecíveis, luxo e glamour talvez nos agreguem menos felicidade do que imaginávamos antes de o mundo mudar e entrarmos nessa espiral de sobrevivência.

E será que tornamo-nos menos felizes? Acho que num primeiro momento sim, quase invariavelmente. Mas, dentro da idéia de adaptação hedônica, fomos encontrando um jeito de manter um nível aceitável de satisfação, adaptados ao que entendemos ser o novo normal em tempos de pandemia. E qual a grande lição? A humanidade passou em algum momento passado a buscar a felicidade em embalagens e não em conteúdos. E, se o que realmente nos faz diferença são  conteúdos, os fundamentais são  poucos e muito simples. Fomos, nesse processo recente de isolamento forçado, convidados a ressignificar o que realmente nos tem valor. Claro que, saindo um pouco do medo de adoecer ou morrer que todos temos em algum grau, trata-se de uma experiência de grande valia para o que vem depois.

Termino citando Jesus Cristo, que há mais de 2 mil anos nos deu uma pista sobre a satisfação genuína. Ele disse (Lucas 17:21) que o Reino de Deus está dentro de nós. Claro! Nossa felicidade não está em nenhuma experiência exclusiva ou embalagem que possamos comprar, mas sim em nosso relacionamento conosco mesmos e com o Infinito. É óbvio que preferíamos não estar passando por isso, afinal vidas estão sendo sacrificadas por um vírus perigoso. Mas que oportunidade única a Natureza nos deu! Podemos nos encontrar conosco, sem embalagem alguma. Podemos experimentar a verdadeira felicidade, aquela que habita dentro de nós mesmos e que nunca deixou de nos pertencer. Apenas nos distraímos com a paisagem no caminho….