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Essa semana foi lançado um artigo de revisão bastante interessante na revista britânica The Lancet sobre os riscos e benefícios das tão faladas estatinas, grandes companheiras das prescrições cardiológicas. Como já postei há alguns dias, muitas notícias equivocadas sobre essa classe de medicações têm feito as pessoas abandonarem seu uso, o que está levando a um aumento no risco de infarto (clique aqui e confira).  Essa nova  revisão traz a importante informação que,  a partir dos dados de estudo já disponíveis, podemos claramente definir a eficácia e segurança dessa classe.

As estatinas são capazes de reduzir os risco de eventos vasculares (isto é, mortes coronárias ou infartos do miocárdio, derrames e procedimentos de revascularização coronária) em cerca de um quarto para cada redução de 39mg/dl no colesterol LDL durante cada ano que são administradas de forma ininterrupta . Os benefícios individuais (ou como chamamos em medicina de redução de risco absoluto) da terapia com estatina dependem do risco inicial de um indivíduo de eventos vasculares  e da redução total  no colesterol LDL que é alcançada. A terapia com estatina tem demonstrado reduzir o risco de doença vascular progressivamente a cada ano que continua a ser feita, de modo que maiores benefícios absolutos vêm com o uso mais prolongado e estes benefícios persistem a longo prazo, o que demonstra também a importância de manter o tratamento ao longo do tempo.

Os únicos eventos adversos que demonstrou-se serem causados por uso de estatina no longo prazo são a  miopatia por estatinas (definida como dor ou fraqueza muscular combinada com grandes aumentos das concentrações sanguíneas de creatinofosfoquinase), diabetes mellitus de início recente, e, possivelmente, acidente vascular cerebral hemorrágico (este raro e de associação questionável com as estatinas). Tipicamente, o tratamento de 10.000 pacientes por 5 anos com um regime eficaz (por exemplo, atorvastatina 40 mg por dia) provoca cerca de cinco casos de miopatia e 50-100 novos casos de diabetes. Lembro que os casos novos de diabetes ocorrem normalmente em indivíduos com obesidade abdominal e síndrome metabólica, que já apresentariam esse quadro, ou seja, a estatina apenas antecipa o diagnóstico. Vale resaltar também que esse grupo de pessoas tem um risco muito alto de doença aterosclerótica, portanto, um benefício da medicação que é muito maior que o risco. A terapia com estatina pode causar eventos adversos sintomáticos (por exemplo, dores musculares ou fraqueza) em até cerca de 50-100 pacientes (ou seja, 0,5 a 1,0%) por 10.000 indivíduos tratados durante 5 anos. No entanto, estudos randomizados controlados com placebo mostraram definitivamente que quase todos os eventos adversos sintomáticos que são atribuídos ao tratamento com estatina na prática de rotina não são realmente causados por ele (ou seja, eles representam misattribution).

A evidência disponível em larga escala a partir de ensaios clínicos randomizados (estudos com uma grande população) também indica que é improvável que grandes excessos absolutos em outros eventos adversos graves ainda esperem a descoberta, uma vez que já se passam mais de 20 anos do uso comercial dessas medicações. Portanto, é muito importante que fique claro para o amigo leitor que essas medicações são seguras e eficazes e que seu uso está fartamente respaldado na literatura médica, claro que para indivíduos que têm indicação para seu uso. Estatinas salvam vidas!

Para ver o artigo na íntegra acesse http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(16)31357-5/fulltext.

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