fé

É bastante frequente por aqui tratarmos do assunto ansiedade. Entendo que ansiedade seja antecipação do sofrimento futuro. É uma emoção ligada ao medo, medo do futuro! É o juro que se paga antecipadamente por um empréstimo que você ainda não sabe se vai fazer. A atenção do ansioso está sempre no momento futuro, que é normalmente perigoso e incerto, cheio de armadilhas a serem identificadas e desarmadas. Para o ansioso, mapear exaustivamente as possíveis adversidades  é garantia de que elas não o surpreendam desprevenido. Só que esse exercício diário, por toda uma vida, além de exaustivo, é certeza de infelicidade.

Sempre atendi ansiosos na minha prática de cardiologista. Isso porque é muito frequente que a ansiedade seja acompanhada de sintomas físicos, como dor torácica, palpitações ou sensação de falta de ar. E essa natureza de sintomas leva a pessoa a suspeitar de doenças do coração. Claro que sempre cabe afastá-las, mas muitas vezes o diagnóstico final é Ansiedade. E os motivos que levam as pessoas a chegarem ao médico ansiosas, normalmente, estão relacionados à sobrecarga emocional advinda do aspecto profissional/financeiro ou acadêmica para os  mais jovens.

Nestes dias de pandemia, tenho visto ansiosos entrarem e saírem do consultório consulta após consulta. Tem me chamado à atenção, no entanto, a motivação pela qual as pessoas estão ansiosas. Elas estão com medo de adoecer! Medo de serem surpreendidas por um inimigo invisível, pouco palpável, contra o qual as armas ainda são escassas. Além disso, as redes sociais e a televisão têm se encarregado de multiplicar esse medo coletivo, uma vez que passamos os dias bombardeados de informações sobre o momento que estamos vivendo. E, diante do medo da morte, da exposição da fragilidade da existência, que sempre soubemos, mas que preferimos manter bem escondida, que podemos pensar e fazer para ir adiante?

Hoje quero deixar uma passagem da Bíblia, talvez a mais importante delas, em que Jesus Cristo proferiu o Sermão da Montanha.  “Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos da vossa vida pelo que haveis de comer ou beber, nem do vosso corpo pelo que haveis de vestir; não é a vida mais que o alimento, e o corpo mais que o vestido? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros, e vosso Pai celestial as alimenta; não valeis vós muito mais do que elas? Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cúbito à sua estatura? Por que andais ansiosos pelo que haveis de vestir? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam, contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Se Deus, pois, assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Assim não andeis ansiosos, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? (Pois os gentios é que procuram todas estas coisas); porque vosso Pai celestial sabe que precisais de todas elas. Mas buscai primeiramente o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

A nós, só nos foi dado o momento presente, sempre. Essa incômoda verdade não se restringe a esse momento. Mas vivemos distraídos o bastante para nos esquecermos dela. Pois bem, agora a Vida tratou de desnudar todas as nossas defesas. A ilusão de controle de todos os fatores da existência foi desfeita, pelo menos momentaneamente. Por isso estamos coletivamente assustados. E qual a proposta do Sermão da Montanha para os dias de hoje? Trata-se de um convite, quase uma intimação, a exercermos a Fé! Que possamos renová-la em nossos corações e enxergar com bom ânimo e positividade o momento que estamos passando. E que Deus nos abençoe.