eu

Tenho brincado de escrever neste blog. Costumava fazer isso no passado, mas, enfim, a resistência me venceu (clique aqui se quiser saber mais sobre ela) por muito tempo. Às vezes bate aquela crise de identidade, penso: tem tanta gente que escreve idéias tão legais, será mesmo que devo me atrever a expor as minhas às pessoas? Mas amo escrever, as palavras fluem naturalmente quando sento-me à frente do computador. Então vou seguir, espero que seja de valia para quem tem paciência suficiente de passar da segunda frase…. Antes de mais nada obrigado!

Acho muito interessante que, independente de nossa origem, nosso credo religioso e nossas convicções pessoais, temos em comum um complexo de valores de julgamos serem justos e desejáveis. Vou citar as virtudes teologais de Paulo de Tarso, a quem já dediquei várias postagens (clique aqui e confira a última). Para quem não lembra, são Fé, Esperança e Amor (Caridade). E muito, mas muito legal, é que a ciência provou o valor de todas elas na melhora do funcionamento de nosso organismo (fisiologia), seja mental ou física. Por isso sinto-me, eu que sou cardiologista de formação, autorizado a tocar em assuntos tão nobres.

Dito isso, hoje quero falar um pouquinho ainda sobre Amor, Fé e Esperança. Sinto nestes dias que nos falta algo primário, na raiz: falta Amor. Mas não Amor por nossos familiares, amigos, etc. Falta o amor mais simples e gratuito: o Amor Próprio!!! Falta aquela postura de acolhimento de si mesmo. Por que precisamos de tanto entretenimento? Por que estamos sempre às voltas com o fazer algo? Fazer algo no trabalho, em casa, nas redes sociais, em reuniões com amigos e familiares, e por ai vai…. Estamos sempre envolvido com o fazer para nos distrairmos de nós mesmos!

Nossa cultura não dá margem para simplesmente não fazer nada. No espaço do não fazer é onde podemos apenas Ser! Mas para termos autorização psíquica para apenas Ser, precisamos gostar daquilo que vemos quando não estamos fazendo nada, ou seja, gostar de apreciar nosso Ser. Aí mora um grande problema, que é sermos capazes de perdoar a nós mesmos e estar à vontade em nosso espaço do Ser, com o que somos, nossas fortalezas e defeitos!

Há uma diferença entre amor próprio e auto-piedade (créditos para meu amigo psiquiatra Ricardo Franzin). Amor próprio pressupõe empatia proativa. É acolher a si mesmo, sem ser auto-piedoso, indulgente consigo mesmo. Percebam o quão sutil e perigosa é a diferença! Auto-piedade é a Resistência vencendo. É aquela tênue diferença entre rir de si mesmo e partir em frente, ao invés de ficar arrumando culpado e justificativa externa para tudo.

Por falta de amor próprio precisamos de tantas confirmações externas de quem somos. Desejamos um carro legal (cheirando a novo, claro), uma roupa exclusiva, uma viagem paradisíaca para ter muitas fotos e likes nas redes. Temos compulsão por  representar personagens na vivência com os outros. Veja, sequer uma viagem nos pertence mais.  Enfim, precisamos sempre de que o mundo aprove o que somos e fazemos. Mas, quando mergulhamos na essência do Eu, percebemos que a satisfação em sua plenitude exige muito pouco. Percebemos o quão libertador é abstrair-se da opinião de consenso da sociedade, uma vez que, à vontade com quem realmente sou, sei do que realmente preciso.

A quarentena tornou-se uma oportunidade única de auto-conhecimento e nos deu tempo de Ser. Vejo, infelizmente, que a maioria está apenas trocando a forma do fazer. Ao invés de trabalhar, gasta tempo excessivo em comunicações vazias em redes sociais, em relacionamentos virtuais, jogos eletrônicos, etc. Gasta também energia demais com medos e fantasias, produzidas por uma consciência coletiva que está muito doente. Quer uma dica para melhorar nesta quarentena? Que tal um encontro com seu Eu? Seja generoso consigo mesmo e capaz de acolher o que encontrar dentro de si.